segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Minha carne é de carnaval, meu coração é igual


Cena típica, poderia ter rolado no saco de São Francisco (Alô, Níterói!!), no Buxixo da tijuca, na Lapa (tudo pode rolar lá), em copacabana ou na vizinhança mais perto da sua casa.
Um homem bonito, cabelo penteado, barba aparada, em dia com a academia, uns dizeres arábicos tatuado no pulso que ele gostaria que estivesse escrito Paz e Prosperidade, mas na verdade, tava escrito Kibe e Esfiha, porque são as únicas palavras que o charlatão do tatuador dele conhecia. Como até hoje ele não sabe disso, deixemos de lado. Camisa cinza em gola V , calça jeans levemente desbotada e um blazer negro.
Procurar ao redor e encontra uma balzaquiana  vestida de vermelho, os olhares se encontram. Ele dá um gole da sua taça de vinho branco, olha sorrateiramente e sorri. Ela faz muito que não é com ela, sorri de canto de lábio, solta o cabelo antes preso e joga pro lado. É o sinal, ele levanta. Não, espera. Faz que vai mas não vai, quer manter o jogo, ruma num andar elegante, passando bem ao lado dela, inspira fundo ao passar pela altura de sua nuca, ameaça dizer uma coisa, mas leva uma enorme reticências contigo...
Volta do banheiro, ela olha com um jeito de "Tá aí..."
Ele, muito educado, pede pra se sentar ao lado dela, ela diz "fica á vontade"...
Ele, homem viajado, estuda diversas abordagens enquanto, sem pressa, dá um gole na sua inseparável taça de vinho branco.
-Oi-interrompe o silencio que já tangia o constrangimento- tudo bem?
-Tudo e você?
-Melhor, melhorando...
-Qual o seu nome?
-Carla e o seu?
-Jean.
Beijinho pra cá beijinho pra lá, só de educação.
-Então, Carla, tive te observando a noite inteira e um fragmento da minha alma me apressava a vim te conhecer, falar com você, trocar simpatias, mas outro, como um anjo instalado no canto do ombro me sussurrava "Calma" e como diria Chico Buarque "Não se afobe não, que nada é pra já...". Contudo, não me perdoaria se não te dissesse da profundidade de seus olhos negros. Lembra-me muito um passeio de barco que fiz em veneza num inverno a meia noite, perdido por aquela cidade italiana, na busca de me encontrar acompanhado apenas de um Merlot envelhecido como o tijolo daquele arquitetura que me circundava. O céu era negro, tão negro quanto seus olhos, mas a lua me acompanhava e de certa forma, porque não?, me acariciava com aquele brilhante, tão reluzente quanto seu belo colar, escorregado tão suavemente quanto uma pétala de rosa umedecida pelo orvalho na primavera em seu pescoço.
Ela ouve.
-E depois -continua ele- o que falar desse vermelho tão vivo que colore com tanto ardor seus lindos cabelos? Lembra um relance de fogo, de uma chama que viajava, flutuava de um vulcão que pude conhecer no Japão. Aquelas pessoas que sempre foram tão orientadas a saber tudo sobre tecnologia, sentiam-se desesperadas e traídas pelas placas tectônicas. Sim, sei que são coisas da vida e já deveríamos aprender sobre isso na aula de geografia, no colégio, na terceira série. Mas nada se assemelha ao momento em que eu vi uma criança desamparada, acompanhada apenas de teu ursinho, tão precioso, de pelúcia. Pedindo em japonês "Colo, tio, colo". Devo confessar, naquele momento uma lágrima escorreu sob a minha sóbria face e pingou o tal companheiro daquele meu amiguinho. Tudo ficou bem, graças a Deus, consegui salva-lo e seu brinquedo de estimação. Mas para falar a verdade, eu não sei quem salvou quem, pois minha alma, depois desse evento, nunca mais foi a mesma.
Ele toma outro gole de sua bebida, já morta de sabor, esperando um feedback da moça. E veio...
...e eu, de decotão, salto alto e saia curta e você ainda querendo discutir Chico Buarque?! Faça me o favor! Ou é veado ou é brocha!!!
Pegou sua bolsa e foi embora atrás de um bloco.
É carnaval, moçada....