segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Peguei pastas pensando partir. Postergar praque? Penei por pedras pesadas, pessoas pessimistas. pestes, porradas. Passei por picos penosos,paredes pichadas. Porém,precisei partir. Porra, porque? Perguntaram. Porque posso. Passei por praias,pesquei peixes para petiscar, pouca pimenta paladar. Passei por parques, penumbras, pirilampos passeavam, pequenos pediam permissão, pobres pediam por pratas. Pareci perdido, porém prossegui. Passei por potrancas,pernas picantes pálpebras pintadas, pérolas pelo peito, pisquei, paquerei, porém perdi. Para perdição, poucos passos. Putas posavam por posses para paraguaios, portugueses, portenhos, portavam poucos princípios, porém penso pré-julgar pra que? Pequenas passeavam pomposas pela principal para pedreiros piscarem pelo período para pestana. Pelo papo pude provar pão, pipoca, partilhei pistaches para pássaros, pouco possuo, porém preciso partilhar para pedintes. Precisei possante para poder passear porém pedestre permaneci. Pude penetrar paróquias, percebendo pessoas pobres pedindo perdão pelos pecados, pessoas poderosas pecavam por posses. Presenciei pérolas para porcos. Provérbios profetizado por pastores pilantras Pena. Predileção pela plenitude poucos possuem. Prefiro pessoas pregando paz. Penei, porém perseverei. Perseverei pela princesa, pele preta, por pouco perco (Pasmem!) para pagodeiro. Provoquei, puxei pelo papo perfeito "Posso pouco passar por príncipe, pareço perdedor, porém poderei paparicar-te pela plena posterioridade. Prevaleci pela positividade."Para próximos, peço perdão pelo período perdido pela prosa pacata!

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

último gole de cerveja

...a noite foi legal. Música boa, bebida de qualidade, pessoas interessantes,papos leves, enfim, tava satisfeito. Já tá quase amanhecendo, hora de voltar. Física quântica é complicado, neurocirurgia também, assim como encaçapar todas as bolas num joguinho de sinuca em uma tacada só. Mas dificuldade mesmo, temos em dizer "Já deu pra mim, foi legal, mas tá na hora de partir."
  Com um gostinho de quero mais, o trajeto foi trôpego pela calçada na direção do ponto. Havia uma tiazinha vendendo cerveja no meio do caminho e no meio do caminho parei. A marca não convém falar, pode influenciar pelo rótulo. Mas o conteúdo, querido, querida, veio como uma boa forma de oração, trouxe a paz eterna. Diálogo com o Todo-Poderoso, amém. É foda. Cerveja gostosa, gelada, mata aquela sede que nem sabia que tinha, desce doce, aveludando o esôfago, flertando com o paladar.Espuma nos lábios. Cada gole era uma sedução festiva de todas as papilas gustativas. Ouvi dizer que rola uma divisão entre o doce, o salgado e o azedo, né? Todos entraram no balaio, ali não rolava fronteiras. Deus, a cerveja tava gostosa! Leve, refrescando a alma. Colocou no tom certo tudo aquilo que parecia errado, idéias pessoais/profissionais/sociais/econômicas foram brotando, florindo "Porque complicamos tanto tudo? Viver é uma delícia, nós que vivemos de dieta."
  Verdade seja dita, o terceiro gole não fluiu tão bem como no segundo e nem pense em se comparar com o primeiro. Aquilo não foi amor, mas uma paixão avassaladora! De qualquer forma, se alguém, naquele exato momento perguntasse: E aí, como tá a cerva? "Perfeita." seria a resposta. No quarto gole rolou um pequeno engôdo, deu uma ovalada. Mas como os momentos felizes tinham deixado raízes, continuei segurando a latinha, desajeitado, enquanto contava o dinheiro da passagem.
    No quinto gole veio o alerta" a cerveja esquentou, tá choca...". Os anjos protegem com tanto carinho os ébrios, e por isso, acreditamos tanto em milagres. "Tá quente e choca agora, mas vai voltar a ficar tão gostosa como no primeiro gole." Meus caros, sinto informa-los mas isso é muito raro de acontecer. Nunca eu não digo apenas por gratidão aos santos que me guiam na bebedeira, Baco é um querido comigo, mas é raro algo que se dissolveu voltar a sua forma original.
     No sexto gole, curto gole, veio o veredito final: Tá uma merda. Já tá me provocando azia, sensação de estufamento, cada vez que boto essa lata na boca me vem um soco na barriga. Briga constante contra o vômito, entalamento na cárdia. Mas ainda tem um restinho a mais, e por pior que esteja me fazendo essa bebida, é tão difícil largar da mão de algo que nos apaixonamos tão visceralmente.
    Sentado no meio-fio, vejo vindo  um rapaz mulato com uma enorme sacola preta, repleta de alumínios, fuxicando cada lixeira à busca de 5 centavos em forma de algumas 300 gramas metálicas. E eu, com um restinho de cerveja na lata, entro na bifurcação "Largo de um passado tão mágico que o conteúdo dessa lata me garantiu e o deixo essa superfície que ele tanto deseja ou não?" Penso no restinho que falta, no quanto estou gostando no momento, penso na produtividade que haverá se eu levar comigo e penso se, nesse momento, essa latinha não combina mais com as mãos desse moço mulato. Mas eu curti tanto ela...a cerveja. E agora só me traz uma sensação ruim, prelúdio de uma ressaca daquelas.
  Não importa, agora o ônibus tá chegando, levanto num impulso do meio-fio, faço sinal com a lata na mão, olho pro homem, gentilmente deixo a latinha em cima da calçada, entro no ônibus e viagem que segue...

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Elevador

Casal discutindo no hall entra no elevador aos berros... -...e você é um brocha!!!! -Não sou não! Você que não me excita mais!! - E como vou, eu, te excitar agora que você entrou na onda dos cincos dedos no cu pra dar prazer! -Isso é mentira! Não levanta falsos testemunhos e foi você que veio com essa "novidade" ! -PORRA NENHUMA!!! Antes de me conhecer você já usava esse seu orifício anal pra trazer 15 papelotes de cocaína no acre pra vender pros vestibulandos menores de idade estudarem! -Ah, então você vai jogar isso na cara, né?! Olha só quem ta falando? Ouvindo assim parece uma Lady, mas eu sei, tua vadia da porra, que você trepa com o amigo do nosso filho!!! -Para inicio de conversa, eu não dormi com ninguém, foram só alguns boquetes enquanto o Juninho tava dormindo e olhe la! E diferente de você ele é um menino bem maduro pra idade dele, inteligente, charmoso, e tem um vigor físico que você não tem a mais de 20 anos!!! -Claro!! Ele tem treze anos!!!! -E olha só quem ta falando, eu sei que você adora aquela vizinha da sua sobrinha Julia no seu colo... -Pau que da em Chico da em Francisco também, e a Julia é mais velha que o Juninho! -Mas a vizinha dela tem 6 anos!!!! O ascensorista nesse momento interrompe (sim ele estava la e ninguém viu): -Desculpe, mas para que andar vocês vão? -Desculpe, esse é o sexto? Acho que é por aqui mesmo... E ao sair todos os outros passageiros que nesse elevador estavam voltando aos seus respectivos assuntos interrompidos por tanta gritaria.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O feice brocha

Está cada vez mais difícil ter um relacionamento nessa era de redes sociais. Se for analisar um gráfico de casamentos pós-feicebuqueanos vai ver uma queda de causar inveja a qualquer empresário com predileção ao fracasso. Não digo necessariamente por causa do ciúme, do ser amado exposto, dos urubus e das cadelas que circundam o que era para ser só nosso. Isso é o de menos, ciúme sempre existiu.
Penso mais pelo como as pessoas estão mais desinteressantes ultimamente. Estão não, sempre foram apenas não haviam ferramentas necessárias para expor tamanha falta de senso, elegância e outras bilongas mais.
Você conhece a moça na fila para comprar cerveja num bar enquanto rola uma musica gostosinha. Ela é bem vestida, arrumadinha, cheirosinha, uma graça. Vocês começam a conversar despretensiosamente sobre um assunto qualquer. Futebol, por exemplo.  Mulheres que entendem de futebol um afrodisíaco alucinante. Papo vai, papo vem e você descobre que ela curte Chico Buarque, torce para o mesmo time que o seu, bebe da sua marca preferida de cerveja, adora Woody Allen e acha Almodovár meio forçado. Tá aí, você encontrou a sua cara metade. Se fosse na década de 90, você pediria o telefone para continuar esse papo num lugar mais reservado, a chamaria para comer uma pizza e ver algum filme meio boboca no pretexto de algo a mais. Hoje pedir pelo telefone é quase uma preliminar para casamento e por achar a menina tão interessante você não quer sufoca-la “vai que eu deixo passar a mãe dos meus futuros cachorrinhos (criança não me apetece) por afobação?”. Telefone agora virou quase o último degrau antes de um namoro, aliás, eu conheço um casal que estão juntos a 6 meses e ainda não sabem qual é a voz no telefone do outro. Na verdade, eles só tem o telefone um do outro por causa do whatsapp ou do bbm. Primeiro pede-se um contato na rede social, sentiu confiança e cumplicidade? Pede o whatsapp? Manteve contato? Começa a mandar mensagem? Se apaixonou? Telefona. Conheço pessoas que não sabem o que fazer quando o telefone toca, bate um desespero, parece  alarme “e agora, fodeu?!”, parece o “Valendo!!!”do Gugu na Banheira. Ligar para dar boa noite não é mais fofo, rapazes, é over. Aliás, outra aulinha do que é in ou out, usar palavras da língua inglesa no meio da frase é cool, mas cuidado para não ficar fake. Voltando, uma escapatória para manter o contato sem parecer desesperado é perguntando como encontro na rede social mais famosa, daí saca o celular e pede para a menina te adicionar, o que também evita um constrangimento (como se pronuncia Suellyn? Vem cá, seu nome não tem na lata de coca zero não, tem?) e mantém um clima de flerte no ar...e aí, quero ver achar minha foto. Funciona, vai por mim.
Se antigamente, você pegaria, no dia seguinte,  o pedacinho de guardanapo com o telefone dela anotado com aquela letrinha amistosa da caneta roubada do bartender, hoje você espera a manhã do dia seguinte para curtir alguma foto que ela postou no banheiro do bar da noite passada com as amigas. Só para começar a mostrar interesse. Não há mais aquela regrinha de esperar 36 horas (24 horas era muito cedo, você gostava de um suspense, e 48 horas era muito tarde, mostraria perda de interesse e quem pede, recebe, quem se desloca, ganha preferência, lembra?). Depois daquele um dia e meio, você pegaria seu telefone (fixo), discaria para casa dela, torceria por nenhum parente atender antes (lembra do mini-infarto quando era uma voz de homem que atendia e depois do seu pedido para falar com a moça recebia um sonoro “Quem quer falar?”, dava um frio na espinha, e quando a pessoa, com quem você realmente queria falar, atendesse,você tinha que recuperar daquela gagueira momentânea).
 Caso quisesse privacidade para aquele seu papo informal pelo telefone, você pegaria a sua linha longa e carregaria até o quarto, até para não atrapalhar a sua avó que tava vendo a novela dela no canal 4, quando eu digo vendo, entenda roncando. Naquele ambiente, iria descobrindo aos poucos quem era aquele ser que queria conquistar, decifrar. Certas coisas só se descobriam perguntando como aniversário, irmãos, trabalho. Não havia um mural com essas informações te explicitando tudo. Nada era redundante, tudo era novo. Na verdade, você poderia fazer o personagem que você quisesse.  Ligava-se as 22 para pagar menos e desligava meia-noite para dormir, senão chegaria atrasado na escola/faculdade/trabalho dia seguinte, e naquelas 2 horas (quando havia assunto e sorte), a atenção de um era só do outro, olha que coisa démodé?! No máximo rolava uma música de fundo, ou o barulho da televisão que se abaixava para ouvir a pessoa melhor, “ah também to vendo esse programa!” era típico.
Hoje não é bem por aí que o bonde anda. Você adicionou, ela te aceitou. Oba, primeiro obstáculo vencido. Dia seguinte ela tá on e a sua bolinha também esta verde na barra lateral do bate-papo. “E aí, chegou bem?” sempre quebra o gelo. “Oi, você é aquele menino que conheci no bar ontem, né?” pode rolar também. Até aí tudo bem, ela é tão gracinha que você chega a achar doce as imagens de auto-ajuda que ela posta no mural de cinco em cinco minutos. Na sua prateleira tem um livro do Caio Fernando Abreu que você ganhou de aniversário daquele seu amigo que faz letras e teatro, como ela posta frases dele e da Clarice Lispector o tempo todo você pensa que ela tem um bom gosto literário. “Adoro o CFA, acho que ele deveria escrever um livro ou então ter um vlog ou blog...”tudo bem, releva. “Sobre a Clarice, acho que já vi ela no Jô ou no programa da Gabi.” Literatura não é o forte, de boa.
Vamos pra cinema, tem várias fotos de frases com o Charlie Chaplin, ela deve curtir cinema preto e branco também. “Me amarro nele, qual é aquela frase que ele sempre diz mesmo?” Tipo o bordão, você quer dizer? Vamos para as fotos dela. Quantas fotos de noitada tirada dos sites das festas, quantas fotos auto-tiradas de banheiro, toda arrumada, quantas legendas “Pre-pa-ra” (tenho certeza de que daqui a duas semanas esse comentário, não vai fazer sentido, mas hoje faz, assim como ontem “Sou foda” era maior sucesso.) Esquece as fotos, foca na conversa. Ela é tão bonitinha, mas só escreve em caixa alta, e como ela conseguiu essa letra rosa no bate-papo, e para que tanto carinha assim? Ela é formada em arquitetura, como ela passou na prova de redação escrevendo “Amu”, “Axu”, “Keru”, quem corrigiu a monografia dela, Jesus Cristo?! Tiririca?  Não há conheço faz mais de 12 horas e já sei (porque vi fotos, várias fotos) de tudo que ela comeu desde que acordou, sei todas as sensações físicas e pensamentos que passa pela cabeça dela de 2 em 2 minutos, não só eu, 887 pessoas também. Não consigo entender como essa Irmã Zuleide ou Gina Indelicada são tão engraçada assim, mas pela cumplicidade parecem que escrevem sobre a vida dela. Eu não acredito que ela goste de Sertanejo Universitário. Antigamente as pessoas escondiam seus pensamentos profundos e segredos num diário debaixo do colchão. Hoje em dia quanto mais curtidas melhor.

Aceitaria tudo isso e a chamaria para sair se ela não insistisse no check-in “Minha humilde residência”. Deu, vou deletar, bloquear, cancelar assinatura. E a igreja preocupada com o casamento gay, deveriam apoiar, pois se não for por ele, ninguém mais financia o matrimônio. Eu,pelo menos, quero evitar o risco das fotos minhas com o padre fazendo mustache no Instagram.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Tá solteira?

E tudo começa numa sinuca na Lapa. Domingo. Quatro pessoas jogando, dois meninos buscando matar as bolas azuis e duas meninas, as bolas vermelhas. É naquela mesa pequena, sabe? De um lado, um primo, de outro sua prima. A prima, Marcela, levou uma amiga gaucha que não via à anos para curtir uma noite no Rio. O primo, Gustavo, chama a prima pelo braço para comprar cerveja. Mostrando-se encantado pela amiga dela, vai direto ao ponto:
-Aí, maior gracinha a sua amiga...
-Tá solteira!
-Coloca na fita?
-Claro! Acho que ela vai gostar de você...
-Show! Tô querendo conhecer gente nova, pessoas bacanas, tô solteiro faz tempo, quero me estabilizar.
-Que bonitinho!! Tenho certeza que vocês vão formar um belo casal!
-Me diz uma coisa: que tipo de música ela curte?
-Ah...acho que gosta um pouco de tudo, né?
-Gosta de Chico Buarque?
-Adora.
-Que bom! Não dá para chamar pra sair uma menina que não goste de Francisco, né? E cinema, gosta de cinema?
-Muito!
-Curte Woody Allen, Almodovar, Tarantino?
-Ah...acho que sim, ela é bem entendida do assunto.
-Show! Adoro mulheres inteligentes.
-Ela é. Tem doutorado em física quântica, formada em artes cênicas e circense, toca violão e piano...
-E como ela se relaciona?
-Super romântica, carinhosa, segura, sabe dar toda a liberdade para os namorados fazerem o que quiserem.
-Bom, bom. Mas me diz uma coisa, sabe cozinhar?
-Perfeitamente. Faz doces e salgados como ninguém. Gosta de quindim? Ela faz um que é pecado!
-E por falar em pecado...sexo, ela curte?
-Ah, não sei, mas acho que sim. Quem não gosta?
-Tipo, é generosa? Chupa bem?
-A gente nunca falou sobre isso, mas deve chupar sim. Olha a boca dela, isso não é boca de quem sabe o que fazer com uma rola?
-Mas engole? É crucial saber disso.
-Não sei, posso perguntar. Mas ela tem um jeito que engole carinhosamente sim. Acho até que já ouvi isso no corredor do curso de linguagem escandinava que a conheci.
-Pergunta depois pra mim por favor, mas de forma discreta, tá? Outra coisa, sexo anal. Topa ou não?
-Eu?
-Não. Ela.
-Eu não sei, a gente não tem muito esse tipo de assunto, não a vejo faz tanto tempo, mas posso perguntar também.
-Pergunta, é importante saber isso. Ah, e a orientação sexual dela?
-Hetero, ué.
-Eu sei, mas ela topa uma terceira na cama com a gente. Beijaria outra mulher só para me ver excitado, essas coisas...
-Hummm...acho que sim. Ela é tão generosa, submissa, é bem a cara dela fazer isso para agradar.
-Ah, mas você sabe que eu sou bem família, né?
-Sei, claro!
-Ela tem irmãs?
-Tem uma caçula de 16 anos.
-Queria que nosso primeiro menagè fosse com a irmã dela. Seria possível?
-Bem, acho que a irmã dela é virgem, mas...
-Ah legal! É importante eu, como bom cunhado, exercer esse papel na iniciação sexual dela. Falando nisso, sabe que eu gosto de coroa, né? Como é a mãe dela?
-Gostosona! Professora de educação física, super enxuta. Quer saber se ela vai ficar assim também, né?
-Não, queria saber se sua amiga toparia me filmar comendo a mãe dela.
-Acho que topa sim, não vejo por que não.
-Sei...gostosa, inteligente, bonita generosa, romântica, cozinha bem. Sem falar do bom gosto musical e para filmes. Acho que não falta nada. Coloca na fita pra mim?
-Coloco, vamos voltar pra mesa, vou falar com ela agora.
-Espera, só mais uma coisa. Bobagem, mas preciso saber, qual o signo dela?
-Escorpiana.
-NÃÃÃÃÃÃÃãOOOOOO! Escorpião não!! Esquece, deixa pra lá.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Insonia

Insonia é uma merda, é foda mesmo. Se hoje é horrível imagina em 1990, o que as pessoas deveriam fazer? Ler? Mais de 140 caracteres? Tá maluco, coisa de louco. Nem na escola ensinam com mais palavras. Responda Revolução Francesa em 140 palavras começando com hash tag (joguinho da velha pros mais antigos).
Hoje não, hoje temos facebook, twitter, whataspp, viber (se o leitor ainda não sabe o que é, tudo bem, é novo mas promete bombar), o  orkut (já prometi, afundo com esse barco!) e canais a beça. Se você tem tv a cabo consegue ver muita putaria, se não, consegue ver outro tipo de sacanagem, a dos pastores e seus martelinhos de ouro e copo em cima da televisão.
Se bem que essa coisa de não se sentir sozinho de madrugada pelas redes sociais é balela, pura ilusão. Passou certa hora e o que você encontra online é a xepa da feira, aquelas pessoas que você mal conhece de vista, tipo ex-ficante de colega de turma do primeiro período da faculdade, amigo de um amigo que hoje em dia nem é mais amigo, pessoas que fizeram parte da sua vida como o guardador de carro de uma rua que você morou a 5 anos atrás (essa classe D e a inteiração digital) ou simplesmente pessoas do seu passado que queremos mante-las lá, no passado.Você fica querendo interagir de qualquer jeito, mas não tem ninguém, nenhum bróder ou uma gatinha interessante que tá na sua lista de investimentos. (Gatinho no caso das moças que estejam lendo). Então acaba aceitando aquela galerinha de bolinha verde -é o que têm pra hoje- pode ser aquele cara que estava numa mesma mesa de um bar no baixo Gávea que você. Trocaram 3 ou 4 palavras de concordância e cumplicidade, sei lá, algum vislumbre profissional, alguém sacou o smart phone e pronto, viraram feicefriends.
Antes fosse só isso! Mas você, carente e abandonado por Morfeu, acaba se sentindo cobiçado em falar com aquela menina que um dia devido a uma carraspana (para quem desconhece essa palavra pergunta para avó, a terceira idade tem valia) intensa você acaba a beijando no banheiro de uma birosca qualquer. Aquela mesma menina que quando entrou no seu carro pediu logo para colocar na radio mix e faz cara feia quando bebe vinho seco, diz que prefere quando é docinho...
É inevitável, na madrugada bate aquela carência, solidão. Basta ver a programação da Rede Tv e os seus chats amizades. Então o jeito é tentar interagir com esse povo semi-conhecido. Assumo que rolou comigo esses dias. Preferi o camarada do Baixo Gávea porque eu realmente odeio a radio mix.

Eu: Fala Nandito! E seu fluzão vai ou não vai?

Nota de esclarecimento: o apelido serve para quebrar o gelo e o time de futebol sempre foi uma fonte de conexão.

Ele: Koeh man (odeio quem fala assim, mas é o que tem para hoje). Nem tô muito ligado em futebol...
Eu: Hum...nem eu, meu mengão não ajuda também, né?! risos...e a repartição?
Ele: Tô desempregado.
Eu: Liga não, tá fácil pra ninguém, logo surge coisa melhor, mas e como tá a Carol?
Ele: Que Carol?
Eu: Quer dizer, Monica...
Ele: Monica??
Eu: Não, você tava saindo com a Daniele, foi mal, confundi...
Ele: Sou gay.

3 minutos, "silêncio"

Eu: Ah... é a modernidade, o negócio é ser feliz mesmo, sem preconceitos, até o Papa aprova, Tamo junto! Você deve ser amigo do Luiz então...
(Luiz é o único amigo homoafetivo, devo ter sido por ele que o conheci.)
Ele: Luiz?! Quem?
Porra! Desisto! Bloqueei e pronto. Não pela sua opção sexual, claro que não, cada um deve ser feliz como achar melhor, claro. Mas também não tô nem um pouco afim de conversar sobre a Madonna.
Cogito procurar a menina que não degusta vinho seco, odeio a mix, mas tenho um puta mp3 e fone de ouvido...bolinha vermelha.
Eis que surge uma Lucinete, cujo a foto do perfil é um desenho da Penélope Charmosa. São 4:53, não vou conseguir dormir agora, então vamo lá! Começo um papo já inclinado para uma futura proposta de coito, tá online nessa hora, tá sozinha, na pista pra negócio. Ela corresponde legal, o diálogo vai fluindo solto até eu descobrir que ela tem 63 anos e é colega de trabalho da minha mãe.
Até cheguei a colocar no telecurso 2000 para ver as novidades das sondas em aparelhos que nunca saberei pronunciar quiçá escrever aqui. Cogitei descer numa padaria interagir com a tia do café, frio e preguiça. Preferi tomar uma dose cavalar de rivotril que me fará hibernar até  o programa do Ratinho. Já me desapeguei do sol mesmo, e com o sucesso de Crepúsculo, os pálidos voltaram á moda.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Mímica

A turma tá animada numa noite de sábado a noite. Sair? Pra que se a boa diversão mesmo é em casa onde todos podem beber á vontade sem se preocupar com a lei seca, longe da multidão e do caos urbano. A turma gosta de se divertir, mas sem correr o perigo de cruzar com batedores de carteira pelo meio do caminho ou com a brutalidade dos pitboys em sua filosofia neandertal.
Decidem ficar na casa da Júlia que é mais espaçosa, além de ela morar sozinha e os vizinhos serem de boa.
Escolhem brincar de adivinhação, sabe aquele jogo com mímicas? Então, ganha quem acertar mais qual mímica o colega tá fazendo. Na regra deles, é cada um por si contra todos, assim tudo fica mais ameno, a competição mais saudável sem aquela rivalidade. Todos curtem mais a noite sem o risco de ninguém se exaltar.
Essa galera é do barato mesmo. Todos gargalham com maior facilidade, o riso corre solto além de nunca se ter visto tamanha cordialidade e gentlieza por metro quadrado.
Agora é a vez do Guilherme jogar:
-Vai lá, Guilherme!
-Ih, fudeu o Guilherme aparaceu ôôôôi- canta Ricardo já colocando a mão na boca.
Guilherme é um gordinho simpático, carismático pelo seu estilo tímido-sorridente, de longe o mais querido, uma espécie de xodó, entende?
Ele enche a mão com os salgadinhos de um pote, só pra ele, no encosto esquerdo do sofá cinza situado no canto da sala. E vai pro centro num impulso só. Nesse momento, acaba que um dos biscoitos entra atravessado, fechando sua glote, entupindo a passagem de ar pela laringe. Guilherme tenta tossir, mas não consegue. Põe as mãos no pescoço, esses movimentos parecem indicar que ele já começou a jogar...
Um chuta "É um filme?", outro grita "Quantas palavras?" Enquanto isso, Guilherme bate com força no próprio peito.
-Faz outro gesto, cara! Assim tá dificil!
-Acho que é um filme com o nome dele, existiu algum Rei Guilherme? Já sei! "Anjo Guilherme"!! exclama já comemorando Rebeca.
-Não?-Rebeca senta-se, de novo.
Nessa hora, ele se ajoelha vermelho colocando a mão no joelho de uma menina.
-Ihhh, olha o Guí dando em cima da Clarisse! Xaveca ela depois, pô! Manda mais uma dica!!!
Ele reuni forças e num esforço colossal, clama numa voz sussurrante:
-Água, água...
-Shhhh, não pode falar, não pode falar!!
Guilherme deita no chão, completamente rubro:
- A orca assassina!!
-Tubarão!!
Ele se vira no chão e começa a bater no chão...
-Quem nadava mesmo? Free Willy!!
-Não? Então Free Willy 2!!
-Ahh...desisto!! Também acabou o tempo...o que era Guilherme?
-Anda, cara, fala logo qual era o filme!
-É fala aí, tô curioso...
-Ei, pode sair do personagem já. Acabou o tempo, você mandou bem...
Nesse momento, todos se entreolham e chegam a uma conclusão chocante:
Ele era um puta ator e desperdiçou o tempo preferindo computação a artes cênicas.
-Gui...
-Guilherme?
-Guilherme!!!
Fabrício vai pegar o papel da mão dele pra saber o filme já que ele não revelava de jeito nenhum e percebe o quanto ele tá frio. Confere o pulso. Nulo.Chama a ambulância, mas quando chega já é tarde demais.
O nome do filme era "Além da vida", mas ninguém acertaria. Eles eram péssimos nesse jogo.