terça-feira, 27 de agosto de 2013

Elevador

Casal discutindo no hall entra no elevador aos berros... -...e você é um brocha!!!! -Não sou não! Você que não me excita mais!! - E como vou, eu, te excitar agora que você entrou na onda dos cincos dedos no cu pra dar prazer! -Isso é mentira! Não levanta falsos testemunhos e foi você que veio com essa "novidade" ! -PORRA NENHUMA!!! Antes de me conhecer você já usava esse seu orifício anal pra trazer 15 papelotes de cocaína no acre pra vender pros vestibulandos menores de idade estudarem! -Ah, então você vai jogar isso na cara, né?! Olha só quem ta falando? Ouvindo assim parece uma Lady, mas eu sei, tua vadia da porra, que você trepa com o amigo do nosso filho!!! -Para inicio de conversa, eu não dormi com ninguém, foram só alguns boquetes enquanto o Juninho tava dormindo e olhe la! E diferente de você ele é um menino bem maduro pra idade dele, inteligente, charmoso, e tem um vigor físico que você não tem a mais de 20 anos!!! -Claro!! Ele tem treze anos!!!! -E olha só quem ta falando, eu sei que você adora aquela vizinha da sua sobrinha Julia no seu colo... -Pau que da em Chico da em Francisco também, e a Julia é mais velha que o Juninho! -Mas a vizinha dela tem 6 anos!!!! O ascensorista nesse momento interrompe (sim ele estava la e ninguém viu): -Desculpe, mas para que andar vocês vão? -Desculpe, esse é o sexto? Acho que é por aqui mesmo... E ao sair todos os outros passageiros que nesse elevador estavam voltando aos seus respectivos assuntos interrompidos por tanta gritaria.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O feice brocha

Está cada vez mais difícil ter um relacionamento nessa era de redes sociais. Se for analisar um gráfico de casamentos pós-feicebuqueanos vai ver uma queda de causar inveja a qualquer empresário com predileção ao fracasso. Não digo necessariamente por causa do ciúme, do ser amado exposto, dos urubus e das cadelas que circundam o que era para ser só nosso. Isso é o de menos, ciúme sempre existiu.
Penso mais pelo como as pessoas estão mais desinteressantes ultimamente. Estão não, sempre foram apenas não haviam ferramentas necessárias para expor tamanha falta de senso, elegância e outras bilongas mais.
Você conhece a moça na fila para comprar cerveja num bar enquanto rola uma musica gostosinha. Ela é bem vestida, arrumadinha, cheirosinha, uma graça. Vocês começam a conversar despretensiosamente sobre um assunto qualquer. Futebol, por exemplo.  Mulheres que entendem de futebol um afrodisíaco alucinante. Papo vai, papo vem e você descobre que ela curte Chico Buarque, torce para o mesmo time que o seu, bebe da sua marca preferida de cerveja, adora Woody Allen e acha Almodovár meio forçado. Tá aí, você encontrou a sua cara metade. Se fosse na década de 90, você pediria o telefone para continuar esse papo num lugar mais reservado, a chamaria para comer uma pizza e ver algum filme meio boboca no pretexto de algo a mais. Hoje pedir pelo telefone é quase uma preliminar para casamento e por achar a menina tão interessante você não quer sufoca-la “vai que eu deixo passar a mãe dos meus futuros cachorrinhos (criança não me apetece) por afobação?”. Telefone agora virou quase o último degrau antes de um namoro, aliás, eu conheço um casal que estão juntos a 6 meses e ainda não sabem qual é a voz no telefone do outro. Na verdade, eles só tem o telefone um do outro por causa do whatsapp ou do bbm. Primeiro pede-se um contato na rede social, sentiu confiança e cumplicidade? Pede o whatsapp? Manteve contato? Começa a mandar mensagem? Se apaixonou? Telefona. Conheço pessoas que não sabem o que fazer quando o telefone toca, bate um desespero, parece  alarme “e agora, fodeu?!”, parece o “Valendo!!!”do Gugu na Banheira. Ligar para dar boa noite não é mais fofo, rapazes, é over. Aliás, outra aulinha do que é in ou out, usar palavras da língua inglesa no meio da frase é cool, mas cuidado para não ficar fake. Voltando, uma escapatória para manter o contato sem parecer desesperado é perguntando como encontro na rede social mais famosa, daí saca o celular e pede para a menina te adicionar, o que também evita um constrangimento (como se pronuncia Suellyn? Vem cá, seu nome não tem na lata de coca zero não, tem?) e mantém um clima de flerte no ar...e aí, quero ver achar minha foto. Funciona, vai por mim.
Se antigamente, você pegaria, no dia seguinte,  o pedacinho de guardanapo com o telefone dela anotado com aquela letrinha amistosa da caneta roubada do bartender, hoje você espera a manhã do dia seguinte para curtir alguma foto que ela postou no banheiro do bar da noite passada com as amigas. Só para começar a mostrar interesse. Não há mais aquela regrinha de esperar 36 horas (24 horas era muito cedo, você gostava de um suspense, e 48 horas era muito tarde, mostraria perda de interesse e quem pede, recebe, quem se desloca, ganha preferência, lembra?). Depois daquele um dia e meio, você pegaria seu telefone (fixo), discaria para casa dela, torceria por nenhum parente atender antes (lembra do mini-infarto quando era uma voz de homem que atendia e depois do seu pedido para falar com a moça recebia um sonoro “Quem quer falar?”, dava um frio na espinha, e quando a pessoa, com quem você realmente queria falar, atendesse,você tinha que recuperar daquela gagueira momentânea).
 Caso quisesse privacidade para aquele seu papo informal pelo telefone, você pegaria a sua linha longa e carregaria até o quarto, até para não atrapalhar a sua avó que tava vendo a novela dela no canal 4, quando eu digo vendo, entenda roncando. Naquele ambiente, iria descobrindo aos poucos quem era aquele ser que queria conquistar, decifrar. Certas coisas só se descobriam perguntando como aniversário, irmãos, trabalho. Não havia um mural com essas informações te explicitando tudo. Nada era redundante, tudo era novo. Na verdade, você poderia fazer o personagem que você quisesse.  Ligava-se as 22 para pagar menos e desligava meia-noite para dormir, senão chegaria atrasado na escola/faculdade/trabalho dia seguinte, e naquelas 2 horas (quando havia assunto e sorte), a atenção de um era só do outro, olha que coisa démodé?! No máximo rolava uma música de fundo, ou o barulho da televisão que se abaixava para ouvir a pessoa melhor, “ah também to vendo esse programa!” era típico.
Hoje não é bem por aí que o bonde anda. Você adicionou, ela te aceitou. Oba, primeiro obstáculo vencido. Dia seguinte ela tá on e a sua bolinha também esta verde na barra lateral do bate-papo. “E aí, chegou bem?” sempre quebra o gelo. “Oi, você é aquele menino que conheci no bar ontem, né?” pode rolar também. Até aí tudo bem, ela é tão gracinha que você chega a achar doce as imagens de auto-ajuda que ela posta no mural de cinco em cinco minutos. Na sua prateleira tem um livro do Caio Fernando Abreu que você ganhou de aniversário daquele seu amigo que faz letras e teatro, como ela posta frases dele e da Clarice Lispector o tempo todo você pensa que ela tem um bom gosto literário. “Adoro o CFA, acho que ele deveria escrever um livro ou então ter um vlog ou blog...”tudo bem, releva. “Sobre a Clarice, acho que já vi ela no Jô ou no programa da Gabi.” Literatura não é o forte, de boa.
Vamos pra cinema, tem várias fotos de frases com o Charlie Chaplin, ela deve curtir cinema preto e branco também. “Me amarro nele, qual é aquela frase que ele sempre diz mesmo?” Tipo o bordão, você quer dizer? Vamos para as fotos dela. Quantas fotos de noitada tirada dos sites das festas, quantas fotos auto-tiradas de banheiro, toda arrumada, quantas legendas “Pre-pa-ra” (tenho certeza de que daqui a duas semanas esse comentário, não vai fazer sentido, mas hoje faz, assim como ontem “Sou foda” era maior sucesso.) Esquece as fotos, foca na conversa. Ela é tão bonitinha, mas só escreve em caixa alta, e como ela conseguiu essa letra rosa no bate-papo, e para que tanto carinha assim? Ela é formada em arquitetura, como ela passou na prova de redação escrevendo “Amu”, “Axu”, “Keru”, quem corrigiu a monografia dela, Jesus Cristo?! Tiririca?  Não há conheço faz mais de 12 horas e já sei (porque vi fotos, várias fotos) de tudo que ela comeu desde que acordou, sei todas as sensações físicas e pensamentos que passa pela cabeça dela de 2 em 2 minutos, não só eu, 887 pessoas também. Não consigo entender como essa Irmã Zuleide ou Gina Indelicada são tão engraçada assim, mas pela cumplicidade parecem que escrevem sobre a vida dela. Eu não acredito que ela goste de Sertanejo Universitário. Antigamente as pessoas escondiam seus pensamentos profundos e segredos num diário debaixo do colchão. Hoje em dia quanto mais curtidas melhor.

Aceitaria tudo isso e a chamaria para sair se ela não insistisse no check-in “Minha humilde residência”. Deu, vou deletar, bloquear, cancelar assinatura. E a igreja preocupada com o casamento gay, deveriam apoiar, pois se não for por ele, ninguém mais financia o matrimônio. Eu,pelo menos, quero evitar o risco das fotos minhas com o padre fazendo mustache no Instagram.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Tá solteira?

E tudo começa numa sinuca na Lapa. Domingo. Quatro pessoas jogando, dois meninos buscando matar as bolas azuis e duas meninas, as bolas vermelhas. É naquela mesa pequena, sabe? De um lado, um primo, de outro sua prima. A prima, Marcela, levou uma amiga gaucha que não via à anos para curtir uma noite no Rio. O primo, Gustavo, chama a prima pelo braço para comprar cerveja. Mostrando-se encantado pela amiga dela, vai direto ao ponto:
-Aí, maior gracinha a sua amiga...
-Tá solteira!
-Coloca na fita?
-Claro! Acho que ela vai gostar de você...
-Show! Tô querendo conhecer gente nova, pessoas bacanas, tô solteiro faz tempo, quero me estabilizar.
-Que bonitinho!! Tenho certeza que vocês vão formar um belo casal!
-Me diz uma coisa: que tipo de música ela curte?
-Ah...acho que gosta um pouco de tudo, né?
-Gosta de Chico Buarque?
-Adora.
-Que bom! Não dá para chamar pra sair uma menina que não goste de Francisco, né? E cinema, gosta de cinema?
-Muito!
-Curte Woody Allen, Almodovar, Tarantino?
-Ah...acho que sim, ela é bem entendida do assunto.
-Show! Adoro mulheres inteligentes.
-Ela é. Tem doutorado em física quântica, formada em artes cênicas e circense, toca violão e piano...
-E como ela se relaciona?
-Super romântica, carinhosa, segura, sabe dar toda a liberdade para os namorados fazerem o que quiserem.
-Bom, bom. Mas me diz uma coisa, sabe cozinhar?
-Perfeitamente. Faz doces e salgados como ninguém. Gosta de quindim? Ela faz um que é pecado!
-E por falar em pecado...sexo, ela curte?
-Ah, não sei, mas acho que sim. Quem não gosta?
-Tipo, é generosa? Chupa bem?
-A gente nunca falou sobre isso, mas deve chupar sim. Olha a boca dela, isso não é boca de quem sabe o que fazer com uma rola?
-Mas engole? É crucial saber disso.
-Não sei, posso perguntar. Mas ela tem um jeito que engole carinhosamente sim. Acho até que já ouvi isso no corredor do curso de linguagem escandinava que a conheci.
-Pergunta depois pra mim por favor, mas de forma discreta, tá? Outra coisa, sexo anal. Topa ou não?
-Eu?
-Não. Ela.
-Eu não sei, a gente não tem muito esse tipo de assunto, não a vejo faz tanto tempo, mas posso perguntar também.
-Pergunta, é importante saber isso. Ah, e a orientação sexual dela?
-Hetero, ué.
-Eu sei, mas ela topa uma terceira na cama com a gente. Beijaria outra mulher só para me ver excitado, essas coisas...
-Hummm...acho que sim. Ela é tão generosa, submissa, é bem a cara dela fazer isso para agradar.
-Ah, mas você sabe que eu sou bem família, né?
-Sei, claro!
-Ela tem irmãs?
-Tem uma caçula de 16 anos.
-Queria que nosso primeiro menagè fosse com a irmã dela. Seria possível?
-Bem, acho que a irmã dela é virgem, mas...
-Ah legal! É importante eu, como bom cunhado, exercer esse papel na iniciação sexual dela. Falando nisso, sabe que eu gosto de coroa, né? Como é a mãe dela?
-Gostosona! Professora de educação física, super enxuta. Quer saber se ela vai ficar assim também, né?
-Não, queria saber se sua amiga toparia me filmar comendo a mãe dela.
-Acho que topa sim, não vejo por que não.
-Sei...gostosa, inteligente, bonita generosa, romântica, cozinha bem. Sem falar do bom gosto musical e para filmes. Acho que não falta nada. Coloca na fita pra mim?
-Coloco, vamos voltar pra mesa, vou falar com ela agora.
-Espera, só mais uma coisa. Bobagem, mas preciso saber, qual o signo dela?
-Escorpiana.
-NÃÃÃÃÃÃÃãOOOOOO! Escorpião não!! Esquece, deixa pra lá.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Insonia

Insonia é uma merda, é foda mesmo. Se hoje é horrível imagina em 1990, o que as pessoas deveriam fazer? Ler? Mais de 140 caracteres? Tá maluco, coisa de louco. Nem na escola ensinam com mais palavras. Responda Revolução Francesa em 140 palavras começando com hash tag (joguinho da velha pros mais antigos).
Hoje não, hoje temos facebook, twitter, whataspp, viber (se o leitor ainda não sabe o que é, tudo bem, é novo mas promete bombar), o  orkut (já prometi, afundo com esse barco!) e canais a beça. Se você tem tv a cabo consegue ver muita putaria, se não, consegue ver outro tipo de sacanagem, a dos pastores e seus martelinhos de ouro e copo em cima da televisão.
Se bem que essa coisa de não se sentir sozinho de madrugada pelas redes sociais é balela, pura ilusão. Passou certa hora e o que você encontra online é a xepa da feira, aquelas pessoas que você mal conhece de vista, tipo ex-ficante de colega de turma do primeiro período da faculdade, amigo de um amigo que hoje em dia nem é mais amigo, pessoas que fizeram parte da sua vida como o guardador de carro de uma rua que você morou a 5 anos atrás (essa classe D e a inteiração digital) ou simplesmente pessoas do seu passado que queremos mante-las lá, no passado.Você fica querendo interagir de qualquer jeito, mas não tem ninguém, nenhum bróder ou uma gatinha interessante que tá na sua lista de investimentos. (Gatinho no caso das moças que estejam lendo). Então acaba aceitando aquela galerinha de bolinha verde -é o que têm pra hoje- pode ser aquele cara que estava numa mesma mesa de um bar no baixo Gávea que você. Trocaram 3 ou 4 palavras de concordância e cumplicidade, sei lá, algum vislumbre profissional, alguém sacou o smart phone e pronto, viraram feicefriends.
Antes fosse só isso! Mas você, carente e abandonado por Morfeu, acaba se sentindo cobiçado em falar com aquela menina que um dia devido a uma carraspana (para quem desconhece essa palavra pergunta para avó, a terceira idade tem valia) intensa você acaba a beijando no banheiro de uma birosca qualquer. Aquela mesma menina que quando entrou no seu carro pediu logo para colocar na radio mix e faz cara feia quando bebe vinho seco, diz que prefere quando é docinho...
É inevitável, na madrugada bate aquela carência, solidão. Basta ver a programação da Rede Tv e os seus chats amizades. Então o jeito é tentar interagir com esse povo semi-conhecido. Assumo que rolou comigo esses dias. Preferi o camarada do Baixo Gávea porque eu realmente odeio a radio mix.

Eu: Fala Nandito! E seu fluzão vai ou não vai?

Nota de esclarecimento: o apelido serve para quebrar o gelo e o time de futebol sempre foi uma fonte de conexão.

Ele: Koeh man (odeio quem fala assim, mas é o que tem para hoje). Nem tô muito ligado em futebol...
Eu: Hum...nem eu, meu mengão não ajuda também, né?! risos...e a repartição?
Ele: Tô desempregado.
Eu: Liga não, tá fácil pra ninguém, logo surge coisa melhor, mas e como tá a Carol?
Ele: Que Carol?
Eu: Quer dizer, Monica...
Ele: Monica??
Eu: Não, você tava saindo com a Daniele, foi mal, confundi...
Ele: Sou gay.

3 minutos, "silêncio"

Eu: Ah... é a modernidade, o negócio é ser feliz mesmo, sem preconceitos, até o Papa aprova, Tamo junto! Você deve ser amigo do Luiz então...
(Luiz é o único amigo homoafetivo, devo ter sido por ele que o conheci.)
Ele: Luiz?! Quem?
Porra! Desisto! Bloqueei e pronto. Não pela sua opção sexual, claro que não, cada um deve ser feliz como achar melhor, claro. Mas também não tô nem um pouco afim de conversar sobre a Madonna.
Cogito procurar a menina que não degusta vinho seco, odeio a mix, mas tenho um puta mp3 e fone de ouvido...bolinha vermelha.
Eis que surge uma Lucinete, cujo a foto do perfil é um desenho da Penélope Charmosa. São 4:53, não vou conseguir dormir agora, então vamo lá! Começo um papo já inclinado para uma futura proposta de coito, tá online nessa hora, tá sozinha, na pista pra negócio. Ela corresponde legal, o diálogo vai fluindo solto até eu descobrir que ela tem 63 anos e é colega de trabalho da minha mãe.
Até cheguei a colocar no telecurso 2000 para ver as novidades das sondas em aparelhos que nunca saberei pronunciar quiçá escrever aqui. Cogitei descer numa padaria interagir com a tia do café, frio e preguiça. Preferi tomar uma dose cavalar de rivotril que me fará hibernar até  o programa do Ratinho. Já me desapeguei do sol mesmo, e com o sucesso de Crepúsculo, os pálidos voltaram á moda.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Mímica

A turma tá animada numa noite de sábado a noite. Sair? Pra que se a boa diversão mesmo é em casa onde todos podem beber á vontade sem se preocupar com a lei seca, longe da multidão e do caos urbano. A turma gosta de se divertir, mas sem correr o perigo de cruzar com batedores de carteira pelo meio do caminho ou com a brutalidade dos pitboys em sua filosofia neandertal.
Decidem ficar na casa da Júlia que é mais espaçosa, além de ela morar sozinha e os vizinhos serem de boa.
Escolhem brincar de adivinhação, sabe aquele jogo com mímicas? Então, ganha quem acertar mais qual mímica o colega tá fazendo. Na regra deles, é cada um por si contra todos, assim tudo fica mais ameno, a competição mais saudável sem aquela rivalidade. Todos curtem mais a noite sem o risco de ninguém se exaltar.
Essa galera é do barato mesmo. Todos gargalham com maior facilidade, o riso corre solto além de nunca se ter visto tamanha cordialidade e gentlieza por metro quadrado.
Agora é a vez do Guilherme jogar:
-Vai lá, Guilherme!
-Ih, fudeu o Guilherme aparaceu ôôôôi- canta Ricardo já colocando a mão na boca.
Guilherme é um gordinho simpático, carismático pelo seu estilo tímido-sorridente, de longe o mais querido, uma espécie de xodó, entende?
Ele enche a mão com os salgadinhos de um pote, só pra ele, no encosto esquerdo do sofá cinza situado no canto da sala. E vai pro centro num impulso só. Nesse momento, acaba que um dos biscoitos entra atravessado, fechando sua glote, entupindo a passagem de ar pela laringe. Guilherme tenta tossir, mas não consegue. Põe as mãos no pescoço, esses movimentos parecem indicar que ele já começou a jogar...
Um chuta "É um filme?", outro grita "Quantas palavras?" Enquanto isso, Guilherme bate com força no próprio peito.
-Faz outro gesto, cara! Assim tá dificil!
-Acho que é um filme com o nome dele, existiu algum Rei Guilherme? Já sei! "Anjo Guilherme"!! exclama já comemorando Rebeca.
-Não?-Rebeca senta-se, de novo.
Nessa hora, ele se ajoelha vermelho colocando a mão no joelho de uma menina.
-Ihhh, olha o Guí dando em cima da Clarisse! Xaveca ela depois, pô! Manda mais uma dica!!!
Ele reuni forças e num esforço colossal, clama numa voz sussurrante:
-Água, água...
-Shhhh, não pode falar, não pode falar!!
Guilherme deita no chão, completamente rubro:
- A orca assassina!!
-Tubarão!!
Ele se vira no chão e começa a bater no chão...
-Quem nadava mesmo? Free Willy!!
-Não? Então Free Willy 2!!
-Ahh...desisto!! Também acabou o tempo...o que era Guilherme?
-Anda, cara, fala logo qual era o filme!
-É fala aí, tô curioso...
-Ei, pode sair do personagem já. Acabou o tempo, você mandou bem...
Nesse momento, todos se entreolham e chegam a uma conclusão chocante:
Ele era um puta ator e desperdiçou o tempo preferindo computação a artes cênicas.
-Gui...
-Guilherme?
-Guilherme!!!
Fabrício vai pegar o papel da mão dele pra saber o filme já que ele não revelava de jeito nenhum e percebe o quanto ele tá frio. Confere o pulso. Nulo.Chama a ambulância, mas quando chega já é tarde demais.
O nome do filme era "Além da vida", mas ninguém acertaria. Eles eram péssimos nesse jogo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

E agora, ódio meu?

Eu te odiei tanto nessa vida que, como toda emoção, uma hora o sentimento acaba. E o que fica é uma melancolia e tão batida sensação de amor que chega a ser clichê, eu sei, Definitivamente, não foi a primeira opção, mas foi a que ficou. E agora?
Posso aceitar meu coração corrompido, tantas coisas minhas já foram perdidas ao meio do caminho e mesmo assim segui vivendo.
De um lado tem a minha parte do que é mais puramente meu: meu coração, minha alma, minha razão. E desse fragmento, farei dele o que puder. A outra metade seria sua, mas na sua ausência, vou preencher com álcool. Sempre funcionou assim, por que não agora?
De repente, foi aí que surgiu o "meia-bomba". Depois que você fechou a porta pela última vez, meu coração nunca mais bobeou por inteiro. Afinal, sou metade sangue, metade rivotril. Tudo bem, tantas pessoas são semi-felizes, porque não eu? Minha idade já não permite nada muito intenso.
Ainda guardo aquele conhaque que você me deu na esperança de sugarmos em duo a última gota desse drink tão fuleiro.
Como disse, já não tenho mais a idade das paixões avassaladoras. Aceito o conformismo, um bate-papo informal,um cinema, um teatro, talvez até um botequim recheado de olhares, cercado de flertes... E entre pernas, vou me perdendo mais de você. De mim? Talvez. Nunca fui tão eu enquanto estive com você, pena que não percebi a tempo. E agora? Rio sem graça, já nem sei mais quem sou, em que estrada me perdi, qual foi a curva que derrapei.
Não importa. A gente vai vivendo. Vou levando.
As pessoas só choram porque tem lágrimas. Eu não choro. As minhas secaram com o tempo.
Mas não tenha pena de mim. A vida é assim, a felicidade não é um bem distribuído as mãos cheias para todos.
 E também não acredito que seja merecimento. Quem mereceria? O que fica não foi o que vivemos. Fica uma algo qualquer, uma ponta, um caco. Mensagem na garrafa largada ao "Deus dará" Sempre valorizei a sua ausência! É que nessa espera, entre a hora marcada e a hora que não chegaria nunca, imaginava coisas que jamais aconteceriam, mas que eram tão prováveis... Você nunca teve algo que pudesse pegar, tão perto, tão próximo? e foi deixando... deixando... Tudo que odeio me faz falta! Vivo de pequenos incômodos, uma dor aqui, outra ali... Poderíamos chamar de pequenas atualizações da realidade, ou quem sabe de pequenos pregos... Lembrei da tarde que você foi embora. Era terça de carnaval, caía uma chuva fina, e no seu rosto vi uma semana perdida. Não existe nada de especial ali! A não ser o fato de você não ser especial. É que quando a gente vai cansando de títulos, provas, provas e títulos, a única coisa que resta é carne, por um período, ossos, cabelos e dentes. Tudo é! E tudo que é, as mãos reconhecem. Entre um gole e outro, uma hora e outra, um passo e um pulo, o riso e a mordida, a raiva e o colo, espero, deixo, puxo, empurro, corro, mordo... Essa vontade de deixar marcas, e seguir rastros e amolar facas.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Cinquenta maços de cigarro

Domingo, posto 7, praia lotada, mar de guarda-sóis, dois homens de frente pro mar, habitando 40 tantos ou 50 poucos proseiam enquanto seguram sua lata de cerveja já quente que sustentam uma bela pança, cultivado por anos de degustação em biroscas e botequins, de marca que não vale a pena mencionar pois não ganho nada com isso:

-Se meu filho vier a ser gay, vou fazer com ele igual ao que o meu avô fez comigo quando me viu fumando cigarro aos 15 anos.
-E o que ele fez?
-Me deu 50 maços de cigarro pra fumar na frente dele. Tudo ali ó, na mesma hora, sem pestanejar.
-Não entendi, você vai dar cigarro pro seu filho fumar se ele for veado?
-Por que não? Funcionou comigo. Depois daquele dia, não me atrevi a botar uma bituca de cigarro na boca.
-Mas não faz sentido, uma coisa não tem nada a ver com a outra.
-O que você sugere então, Odylon? Que eu contrate 10 negões pra dar uma curra nele?
-Não é bem isso, mas...
-...Até que faz sentido, tá aí, vou contratar 10 negões pra currar ele. Assim ele vai ficar com tanta repulsa de homem como eu fiquei de cigarro.
-Tá maluco, Fernando?! E a saúde dele?
-Pode deixar, vai ser tudo de pau pequeno, não vai machucar ele tanto assim...
-Pode deixa-lo frustrado-brinca Vanderley.
-Eu sei, funcionou comigo.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Calendário

Às vezes você tem a sensação que está sentado bem no meio do tapete da sua sala, teclando no seu celular ou laptop com a janela aberta e vem um vento forte, bate e arranca as páginas de um calendário que fica  preso a parede? Daí você saí e percebe que esse vento te arrancou 365 páginas.
Nesse momento, você se dá conta que não foi o vento que te arrancou um ano de páginas, foi você que ficou sentado por um ano.
E as folhas continuam voando, e vão continuar voando...
Salvo um dia ou outro, conseguimos segurar alguma folha e guardar no bolso (como se guarda o retrato de um filho na carteira, ou um documento tão importante quanto a nossa identidade), na esperança de revivê-lo, mostrar aos filhos, netos ou apenas olhar com carinho em algum dia muito pesado.
Na ansiedade em ver as páginas voando, saindo de nosso controle, e diante a nossa impotência, saímos, bebemos, fugimos.Mas elas continuam voando pela janela, as vezes em maior intensidade, as vezes em menor intensidade, depende do vento, de teu vento.
No início, o bloco de folhas é grande, um maço enorme, então perder algumas não faz diferença, pouco faz falta...
Mas cada vez mais, o bloco vai afinando, estreitando, ficando pequeno, e logo, aquelas folhas que voaram pela janela vão te fazendo falta.
Desesperadamente, você inspira, pega um impulso e ganha a rua, buscando resgatar, ao máximo, o quanto de folhas em seus braços caberem. Mas agora já é tarde...e quando vai notar, o bloco acabou.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Minha carne é de carnaval, meu coração é igual


Cena típica, poderia ter rolado no saco de São Francisco (Alô, Níterói!!), no Buxixo da tijuca, na Lapa (tudo pode rolar lá), em copacabana ou na vizinhança mais perto da sua casa.
Um homem bonito, cabelo penteado, barba aparada, em dia com a academia, uns dizeres arábicos tatuado no pulso que ele gostaria que estivesse escrito Paz e Prosperidade, mas na verdade, tava escrito Kibe e Esfiha, porque são as únicas palavras que o charlatão do tatuador dele conhecia. Como até hoje ele não sabe disso, deixemos de lado. Camisa cinza em gola V , calça jeans levemente desbotada e um blazer negro.
Procurar ao redor e encontra uma balzaquiana  vestida de vermelho, os olhares se encontram. Ele dá um gole da sua taça de vinho branco, olha sorrateiramente e sorri. Ela faz muito que não é com ela, sorri de canto de lábio, solta o cabelo antes preso e joga pro lado. É o sinal, ele levanta. Não, espera. Faz que vai mas não vai, quer manter o jogo, ruma num andar elegante, passando bem ao lado dela, inspira fundo ao passar pela altura de sua nuca, ameaça dizer uma coisa, mas leva uma enorme reticências contigo...
Volta do banheiro, ela olha com um jeito de "Tá aí..."
Ele, muito educado, pede pra se sentar ao lado dela, ela diz "fica á vontade"...
Ele, homem viajado, estuda diversas abordagens enquanto, sem pressa, dá um gole na sua inseparável taça de vinho branco.
-Oi-interrompe o silencio que já tangia o constrangimento- tudo bem?
-Tudo e você?
-Melhor, melhorando...
-Qual o seu nome?
-Carla e o seu?
-Jean.
Beijinho pra cá beijinho pra lá, só de educação.
-Então, Carla, tive te observando a noite inteira e um fragmento da minha alma me apressava a vim te conhecer, falar com você, trocar simpatias, mas outro, como um anjo instalado no canto do ombro me sussurrava "Calma" e como diria Chico Buarque "Não se afobe não, que nada é pra já...". Contudo, não me perdoaria se não te dissesse da profundidade de seus olhos negros. Lembra-me muito um passeio de barco que fiz em veneza num inverno a meia noite, perdido por aquela cidade italiana, na busca de me encontrar acompanhado apenas de um Merlot envelhecido como o tijolo daquele arquitetura que me circundava. O céu era negro, tão negro quanto seus olhos, mas a lua me acompanhava e de certa forma, porque não?, me acariciava com aquele brilhante, tão reluzente quanto seu belo colar, escorregado tão suavemente quanto uma pétala de rosa umedecida pelo orvalho na primavera em seu pescoço.
Ela ouve.
-E depois -continua ele- o que falar desse vermelho tão vivo que colore com tanto ardor seus lindos cabelos? Lembra um relance de fogo, de uma chama que viajava, flutuava de um vulcão que pude conhecer no Japão. Aquelas pessoas que sempre foram tão orientadas a saber tudo sobre tecnologia, sentiam-se desesperadas e traídas pelas placas tectônicas. Sim, sei que são coisas da vida e já deveríamos aprender sobre isso na aula de geografia, no colégio, na terceira série. Mas nada se assemelha ao momento em que eu vi uma criança desamparada, acompanhada apenas de teu ursinho, tão precioso, de pelúcia. Pedindo em japonês "Colo, tio, colo". Devo confessar, naquele momento uma lágrima escorreu sob a minha sóbria face e pingou o tal companheiro daquele meu amiguinho. Tudo ficou bem, graças a Deus, consegui salva-lo e seu brinquedo de estimação. Mas para falar a verdade, eu não sei quem salvou quem, pois minha alma, depois desse evento, nunca mais foi a mesma.
Ele toma outro gole de sua bebida, já morta de sabor, esperando um feedback da moça. E veio...
...e eu, de decotão, salto alto e saia curta e você ainda querendo discutir Chico Buarque?! Faça me o favor! Ou é veado ou é brocha!!!
Pegou sua bolsa e foi embora atrás de um bloco.
É carnaval, moçada....