sexta-feira, 31 de maio de 2013

O feice brocha

Está cada vez mais difícil ter um relacionamento nessa era de redes sociais. Se for analisar um gráfico de casamentos pós-feicebuqueanos vai ver uma queda de causar inveja a qualquer empresário com predileção ao fracasso. Não digo necessariamente por causa do ciúme, do ser amado exposto, dos urubus e das cadelas que circundam o que era para ser só nosso. Isso é o de menos, ciúme sempre existiu.
Penso mais pelo como as pessoas estão mais desinteressantes ultimamente. Estão não, sempre foram apenas não haviam ferramentas necessárias para expor tamanha falta de senso, elegância e outras bilongas mais.
Você conhece a moça na fila para comprar cerveja num bar enquanto rola uma musica gostosinha. Ela é bem vestida, arrumadinha, cheirosinha, uma graça. Vocês começam a conversar despretensiosamente sobre um assunto qualquer. Futebol, por exemplo.  Mulheres que entendem de futebol um afrodisíaco alucinante. Papo vai, papo vem e você descobre que ela curte Chico Buarque, torce para o mesmo time que o seu, bebe da sua marca preferida de cerveja, adora Woody Allen e acha Almodovár meio forçado. Tá aí, você encontrou a sua cara metade. Se fosse na década de 90, você pediria o telefone para continuar esse papo num lugar mais reservado, a chamaria para comer uma pizza e ver algum filme meio boboca no pretexto de algo a mais. Hoje pedir pelo telefone é quase uma preliminar para casamento e por achar a menina tão interessante você não quer sufoca-la “vai que eu deixo passar a mãe dos meus futuros cachorrinhos (criança não me apetece) por afobação?”. Telefone agora virou quase o último degrau antes de um namoro, aliás, eu conheço um casal que estão juntos a 6 meses e ainda não sabem qual é a voz no telefone do outro. Na verdade, eles só tem o telefone um do outro por causa do whatsapp ou do bbm. Primeiro pede-se um contato na rede social, sentiu confiança e cumplicidade? Pede o whatsapp? Manteve contato? Começa a mandar mensagem? Se apaixonou? Telefona. Conheço pessoas que não sabem o que fazer quando o telefone toca, bate um desespero, parece  alarme “e agora, fodeu?!”, parece o “Valendo!!!”do Gugu na Banheira. Ligar para dar boa noite não é mais fofo, rapazes, é over. Aliás, outra aulinha do que é in ou out, usar palavras da língua inglesa no meio da frase é cool, mas cuidado para não ficar fake. Voltando, uma escapatória para manter o contato sem parecer desesperado é perguntando como encontro na rede social mais famosa, daí saca o celular e pede para a menina te adicionar, o que também evita um constrangimento (como se pronuncia Suellyn? Vem cá, seu nome não tem na lata de coca zero não, tem?) e mantém um clima de flerte no ar...e aí, quero ver achar minha foto. Funciona, vai por mim.
Se antigamente, você pegaria, no dia seguinte,  o pedacinho de guardanapo com o telefone dela anotado com aquela letrinha amistosa da caneta roubada do bartender, hoje você espera a manhã do dia seguinte para curtir alguma foto que ela postou no banheiro do bar da noite passada com as amigas. Só para começar a mostrar interesse. Não há mais aquela regrinha de esperar 36 horas (24 horas era muito cedo, você gostava de um suspense, e 48 horas era muito tarde, mostraria perda de interesse e quem pede, recebe, quem se desloca, ganha preferência, lembra?). Depois daquele um dia e meio, você pegaria seu telefone (fixo), discaria para casa dela, torceria por nenhum parente atender antes (lembra do mini-infarto quando era uma voz de homem que atendia e depois do seu pedido para falar com a moça recebia um sonoro “Quem quer falar?”, dava um frio na espinha, e quando a pessoa, com quem você realmente queria falar, atendesse,você tinha que recuperar daquela gagueira momentânea).
 Caso quisesse privacidade para aquele seu papo informal pelo telefone, você pegaria a sua linha longa e carregaria até o quarto, até para não atrapalhar a sua avó que tava vendo a novela dela no canal 4, quando eu digo vendo, entenda roncando. Naquele ambiente, iria descobrindo aos poucos quem era aquele ser que queria conquistar, decifrar. Certas coisas só se descobriam perguntando como aniversário, irmãos, trabalho. Não havia um mural com essas informações te explicitando tudo. Nada era redundante, tudo era novo. Na verdade, você poderia fazer o personagem que você quisesse.  Ligava-se as 22 para pagar menos e desligava meia-noite para dormir, senão chegaria atrasado na escola/faculdade/trabalho dia seguinte, e naquelas 2 horas (quando havia assunto e sorte), a atenção de um era só do outro, olha que coisa démodé?! No máximo rolava uma música de fundo, ou o barulho da televisão que se abaixava para ouvir a pessoa melhor, “ah também to vendo esse programa!” era típico.
Hoje não é bem por aí que o bonde anda. Você adicionou, ela te aceitou. Oba, primeiro obstáculo vencido. Dia seguinte ela tá on e a sua bolinha também esta verde na barra lateral do bate-papo. “E aí, chegou bem?” sempre quebra o gelo. “Oi, você é aquele menino que conheci no bar ontem, né?” pode rolar também. Até aí tudo bem, ela é tão gracinha que você chega a achar doce as imagens de auto-ajuda que ela posta no mural de cinco em cinco minutos. Na sua prateleira tem um livro do Caio Fernando Abreu que você ganhou de aniversário daquele seu amigo que faz letras e teatro, como ela posta frases dele e da Clarice Lispector o tempo todo você pensa que ela tem um bom gosto literário. “Adoro o CFA, acho que ele deveria escrever um livro ou então ter um vlog ou blog...”tudo bem, releva. “Sobre a Clarice, acho que já vi ela no Jô ou no programa da Gabi.” Literatura não é o forte, de boa.
Vamos pra cinema, tem várias fotos de frases com o Charlie Chaplin, ela deve curtir cinema preto e branco também. “Me amarro nele, qual é aquela frase que ele sempre diz mesmo?” Tipo o bordão, você quer dizer? Vamos para as fotos dela. Quantas fotos de noitada tirada dos sites das festas, quantas fotos auto-tiradas de banheiro, toda arrumada, quantas legendas “Pre-pa-ra” (tenho certeza de que daqui a duas semanas esse comentário, não vai fazer sentido, mas hoje faz, assim como ontem “Sou foda” era maior sucesso.) Esquece as fotos, foca na conversa. Ela é tão bonitinha, mas só escreve em caixa alta, e como ela conseguiu essa letra rosa no bate-papo, e para que tanto carinha assim? Ela é formada em arquitetura, como ela passou na prova de redação escrevendo “Amu”, “Axu”, “Keru”, quem corrigiu a monografia dela, Jesus Cristo?! Tiririca?  Não há conheço faz mais de 12 horas e já sei (porque vi fotos, várias fotos) de tudo que ela comeu desde que acordou, sei todas as sensações físicas e pensamentos que passa pela cabeça dela de 2 em 2 minutos, não só eu, 887 pessoas também. Não consigo entender como essa Irmã Zuleide ou Gina Indelicada são tão engraçada assim, mas pela cumplicidade parecem que escrevem sobre a vida dela. Eu não acredito que ela goste de Sertanejo Universitário. Antigamente as pessoas escondiam seus pensamentos profundos e segredos num diário debaixo do colchão. Hoje em dia quanto mais curtidas melhor.

Aceitaria tudo isso e a chamaria para sair se ela não insistisse no check-in “Minha humilde residência”. Deu, vou deletar, bloquear, cancelar assinatura. E a igreja preocupada com o casamento gay, deveriam apoiar, pois se não for por ele, ninguém mais financia o matrimônio. Eu,pelo menos, quero evitar o risco das fotos minhas com o padre fazendo mustache no Instagram.