terça-feira, 22 de maio de 2012

Campanha Pró-Tabagismo

Campanha pró-tabagismo
Cigarro... Eu gosto de cigarro. Na verdade, eu adoro cigarro. Sou a favor do tabagismo e não entendo essas campanhas antitabagistas, sou contra essas campanhas, sou a favor de campanhas pró-tabagismo. E olha que eu nem fumo?! Então por que esse meu entusiasmo pela fumaça? Simples, pego metrô às 6 da tarde na carioca, levo cotoveladas em shows, nunca consigo ingresso para o cinema e não vejo membros da minha família desde a última vez que fomos a praia todos nós juntos a praia, meu sobrinho estava comigo no posto 9 de Ipanema á duas semanas atrás e dizem que deve estar perambulando perdido agora pelo posto 6...da Barra, gostava dele...que Deus o tenha. Chego as 8 horas na fila do DETRAN e só sou atendido 13 horas, do dia seguinte.
O cigarro dá uma repaginada, uma selecionada na população, é darwinismo puro. Outro dia estava numa rua em Duque de Caxias (e Duque de Caxias por si só já é uma prova de que as pessoas deveriam fumar mais) e numa  calçada vi um gato sendo vendido, todo blasé em cima de uma almofadinha vermelha e com toda a veadagem que esse bichano requer. Agora preciso ser sincero, só não comprei por influência do kit anti-gay escrito pelo Bossonaro. Numa mesma calçada mais adiante, vi uma outra senhora com um caixote de papelão cheio de cachorrinhos brincando, pronto para serem doados e um pouquinho mais a frente, vi uma moça com dois bebês em cada braço e uma placa “Leve-os, pelamordedeus!”. Moro sozinho e as vezes bate uma solidão, além disso a minha mulher não pode ter filhos, ex-mulher aliás, terminou comigo por não me achar responsável o suficiente. Falou que falta em mim senso de caridade e para prová-la que tenho muito sentimento paternal dentro de mim, acabei adotando...um cachorrinho. Quero reconquistá-la mas não sou burro, até sou mas nem tanto, entre um cachorrinho brincando e uma criança chorando, a escolha é meio óbvia, não?
O mundo tem 7 bilhões de pessoas, muitas não sabem o que é camisinha e outros são jogadores de futebol ou pagodeiros (raça fértil!). Então se não fizermos nada vão ter mais pessoas brotando do asfalto. Pensem: mais paparazzo, mais programas de fofocas, mais ex-BBBs, mais duplas sertanejas, mais seguranças brucutus de seguranças, mais atendentes de telemarketing (mais gerúndio, meu Deus do céu!), e o pior... mais ônibus lotados de funkeiros que desconhecem uma sutil invenção, fone de ouvido!
Aí entra o cigarro, como controlador demográfico, até porque o fumante faz parte de uma galera interessante para ser dizimada. Quem é o fumante? É aquele que assopra fumaça enquanto você ta comendo, é aquele que buzina no transito assim que o sinal verde abre, é o que tenta te vender um pacote telefônico com 300 horas gratuitas em ligações para Tunísia no período de 2 a 4 da manhã e não aceita “não” como resposta. O fumante é aquele que chega gritando ao visitar a família que acabou de gerar um recém-nascido, chega gritando 11 da noite sem ter sido convidado porque se acham legal demais para esperar por um convite.
O fumante é ansioso, é nervoso, é estressado, ascende um cigarro com a brisa de outro. Fala em cinco celulares ao mesmo tempo, te faz perguntas, mas não te esperam responder porque simplesmente não querem ouvir. Fala alto, berra, xinga só porque o garçom esqueceu de trazer o guardanapo. Economiza-nos 10%, mas não economiza no cigarro. O fumante é azedo, te convida para almoçar diz que esqueceu a carteira quando a conta chega e te apressa porque tem que sair para fazer uma fumacinha. Pergunte para o seu chefe estressado se ele fuma com aqueles dentes amarelados, cheiro de Chevette 88 com escapamento furado e voz rouca cheia de pigarro.  O pigarro, coisa tão íntima, que o fumante quer dividir com o mundo, limpando a garganta enquanto você queima a língua com café porque ele ta te puxando pelo braço até uma banca mais próxima para comprar um maço.
O fumante é aquele que de tão ansioso conta o fim da sua piada no meio porque não agüenta esperar até o final. É aquele parente chato e recalcado que ouve suas notícias tristes sorrindo e a boa de cara séria. É aquele que te faz esperar na fila mais uma hora e meia por uma mesa que dê para ele fazer aquela fumaça tão cheirosa quanto estrume de cavalo.
O tabagista é aquele que quer saber se você viu a última foto que ele postou na internet, como se você não tivesse nada, além disso, para fazer. Se você viu, porque não curtiu, se curtiu porque não comentou, e se comentou não gostou do comentário. Porque o do tabaco é crítico, muito crítico e cria adjetivos extremamente pedantes para classificar qualquer coisa como: esse quadro tem um sabor ácido do perfume da margarida de Omã em seu estado quiral.
Aí você vai dizer que nem todo fumante é agitado. É verdade e o fumante calmo é o pior, é lerdo e o tempo gira em torno dele, geralmente essa classe de tabagista é barbada e gosta de ler Dostoievsk em sua forma original (diz que é mais cru... porra é a mesma coisa, caralho!). Uma vez eu precisei ir para longe, muito longe, Realengo, eu acho e perguntei para um moço barbudo com um cigarro entre os dedos, qual ônibus eu deveria pegar. Ele parou, ouviu minha pergunta, a sentiu, brincou em sua mente com minha pergunta, visualizou o ônibus, moveu com essa lembrança do ônibus como ele balança um copo de Dreher (porque fumante gosta dessas bebidas tipo Dreher, bebidas de Alcatrão, Genebra, bebidas que só existem graças à indústria do tabaco) e até responder passaram-se os três últimos ônibus que iriam (se atrever a ir) para Realengo. Como se eu já não tivesse o suficiente na merda em ter que ir para Realengo. Esse tipo de fumante fala com pausas dramáticas, cheios de reticência e você nunca sabe quando ele terminou a frase, e quando descobre sempre rola uma certa frustração, aquela decepção, sabe?

-Eu...fui...a uma...festa... (2 minutos)
-Legal, você foi a uma festa!
-E nessa festa (interrompe ele)...tinha uma menina... (4 minutos)
-Poxa, legal foi falar com...
-Essa menina (interrompe ele de novo)...me lembrou...a ...minha...infância.
Silêncio...
Você pensa: ele vai falar mais coisa, e ele fica te olhando. Então você descobre que acabou a frase mesmo.
-Porra, era isso??? Metade do jogo que eu estava gostando de assistir para falar isso? Já foram 3 gols que eu deixei de assistir por causa de uma menina que ele viu em alguma festa qualquer e lembrou da infância?? Tomara, no mínimo, que ela estava sendo currada na hora que ele a viu!
 E tem gente que quer acabar com as empresas de cigarro no mundo. Deus e livre, quero que elas continuem, mas se possível ci alguma substância a mais para dar sabor, como arsênio ou estricnina, por exemplo.