Campanha pró-tabagismo
Cigarro... Eu gosto de
cigarro. Na verdade, eu adoro cigarro. Sou a favor do tabagismo e não
entendo essas campanhas antitabagistas, sou contra essas campanhas, sou a
favor de campanhas pró-tabagismo. E olha que eu nem fumo?! Então por
que esse meu entusiasmo pela fumaça? Simples, pego metrô às 6 da tarde
na carioca, levo cotoveladas em shows, nunca consigo ingresso para o
cinema e não vejo membros da minha família desde a última vez que fomos a
praia todos nós juntos a praia, meu sobrinho estava comigo no posto 9
de Ipanema á duas semanas atrás e dizem que deve estar perambulando
perdido agora pelo posto 6...da Barra, gostava dele...que Deus o tenha.
Chego as 8 horas na fila do DETRAN e só sou atendido 13 horas, do dia
seguinte.
O cigarro dá uma repaginada, uma selecionada na
população, é darwinismo puro. Outro dia estava numa rua em Duque de
Caxias (e Duque de Caxias por si só já é uma prova de que as pessoas
deveriam fumar mais) e numa calçada vi um gato sendo vendido, todo
blasé em cima de uma almofadinha vermelha e com toda a veadagem que esse
bichano requer. Agora preciso ser sincero, só não comprei por
influência do kit anti-gay escrito pelo Bossonaro. Numa mesma calçada
mais adiante, vi uma outra senhora com um caixote de papelão cheio de
cachorrinhos brincando, pronto para serem doados e um pouquinho mais a
frente, vi uma moça com dois bebês em cada braço e uma placa “Leve-os,
pelamordedeus!”. Moro sozinho e as vezes bate uma solidão, além disso a
minha mulher não pode ter filhos, ex-mulher aliás, terminou comigo por
não me achar responsável o suficiente. Falou que falta em mim senso de
caridade e para prová-la que tenho muito sentimento paternal dentro de
mim, acabei adotando...um cachorrinho. Quero reconquistá-la mas não sou
burro, até sou mas nem tanto, entre um cachorrinho brincando e uma
criança chorando, a escolha é meio óbvia, não?
O mundo tem 7
bilhões de pessoas, muitas não sabem o que é camisinha e outros são
jogadores de futebol ou pagodeiros (raça fértil!). Então se não fizermos
nada vão ter mais pessoas brotando do asfalto. Pensem: mais paparazzo,
mais programas de fofocas, mais ex-BBBs, mais duplas sertanejas, mais
seguranças brucutus de seguranças, mais atendentes de telemarketing
(mais gerúndio, meu Deus do céu!), e o pior... mais ônibus lotados de
funkeiros que desconhecem uma sutil invenção, fone de ouvido!
Aí
entra o cigarro, como controlador demográfico, até porque o fumante faz
parte de uma galera interessante para ser dizimada. Quem é o fumante? É
aquele que assopra fumaça enquanto você ta comendo, é aquele que buzina
no transito assim que o sinal verde abre, é o que tenta te vender um
pacote telefônico com 300 horas gratuitas em ligações para Tunísia no
período de 2 a 4 da manhã e não aceita “não” como resposta. O fumante é
aquele que chega gritando ao visitar a família que acabou de gerar um
recém-nascido, chega gritando 11 da noite sem ter sido convidado porque
se acham legal demais para esperar por um convite.
O fumante é
ansioso, é nervoso, é estressado, ascende um cigarro com a brisa de
outro. Fala em cinco celulares ao mesmo tempo, te faz perguntas, mas não
te esperam responder porque simplesmente não querem ouvir. Fala alto,
berra, xinga só porque o garçom esqueceu de trazer o guardanapo.
Economiza-nos 10%, mas não economiza no cigarro. O fumante é azedo, te
convida para almoçar diz que esqueceu a carteira quando a conta chega e
te apressa porque tem que sair para fazer uma fumacinha. Pergunte para o
seu chefe estressado se ele fuma com aqueles dentes amarelados, cheiro
de Chevette 88 com escapamento furado e voz rouca cheia de pigarro. O
pigarro, coisa tão íntima, que o fumante quer dividir com o mundo,
limpando a garganta enquanto você queima a língua com café porque ele ta
te puxando pelo braço até uma banca mais próxima para comprar um maço.
O
fumante é aquele que de tão ansioso conta o fim da sua piada no meio
porque não agüenta esperar até o final. É aquele parente chato e
recalcado que ouve suas notícias tristes sorrindo e a boa de cara séria.
É aquele que te faz esperar na fila mais uma hora e meia por uma mesa
que dê para ele fazer aquela fumaça tão cheirosa quanto estrume de
cavalo.
O tabagista é aquele que quer saber se você viu a última
foto que ele postou na internet, como se você não tivesse nada, além
disso, para fazer. Se você viu, porque não curtiu, se curtiu porque não
comentou, e se comentou não gostou do comentário. Porque o do tabaco é
crítico, muito crítico e cria adjetivos extremamente pedantes para
classificar qualquer coisa como: esse quadro tem um sabor ácido do
perfume da margarida de Omã em seu estado quiral.
Aí você vai
dizer que nem todo fumante é agitado. É verdade e o fumante calmo é o
pior, é lerdo e o tempo gira em torno dele, geralmente essa classe de
tabagista é barbada e gosta de ler Dostoievsk em sua forma original (diz
que é mais cru... porra é a mesma coisa, caralho!). Uma vez eu precisei
ir para longe, muito longe, Realengo, eu acho e perguntei para um moço
barbudo com um cigarro entre os dedos, qual ônibus eu deveria pegar. Ele
parou, ouviu minha pergunta, a sentiu, brincou em sua mente com minha
pergunta, visualizou o ônibus, moveu com essa lembrança do ônibus como
ele balança um copo de Dreher (porque fumante gosta dessas bebidas tipo
Dreher, bebidas de Alcatrão, Genebra, bebidas que só existem graças à
indústria do tabaco) e até responder passaram-se os três últimos ônibus
que iriam (se atrever a ir) para Realengo. Como se eu já não tivesse o
suficiente na merda em ter que ir para Realengo. Esse tipo de fumante
fala com pausas dramáticas, cheios de reticência e você nunca sabe
quando ele terminou a frase, e quando descobre sempre rola uma certa
frustração, aquela decepção, sabe?
-Eu...fui...a uma...festa... (2 minutos)
-Legal, você foi a uma festa!
-E nessa festa (interrompe ele)...tinha uma menina... (4 minutos)
-Poxa, legal foi falar com...
-Essa menina (interrompe ele de novo)...me lembrou...a ...minha...infância.
Silêncio...
Você pensa: ele vai falar mais coisa, e ele fica te olhando. Então você descobre que acabou a frase mesmo.
-Porra,
era isso??? Metade do jogo que eu estava gostando de assistir para
falar isso? Já foram 3 gols que eu deixei de assistir por causa de uma
menina que ele viu em alguma festa qualquer e lembrou da infância??
Tomara, no mínimo, que ela estava sendo currada na hora que ele a viu!
E
tem gente que quer acabar com as empresas de cigarro no mundo. Deus e
livre, quero que elas continuem, mas se possível ci alguma substância a
mais para dar sabor, como arsênio ou estricnina, por exemplo.